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Angra do Heroísmo
Fortificações
Monte Brasil
Publicada em
fevereiro 12, 2012
Fortaleza de S.João Baptista no Monte Brasil - Angra do Heroísmo |
A Fortaleza de São João Baptista, formalmente denominada como Prédio Militar nº 001/Angra do Heroísmo, é também referida como Castelo de São João Baptista, Castelo de São Filipe, Fortaleza de São Filipe ou simplesmente Fortaleza do Monte Brasil.
Foi erguida no contexto da Dinastia Filipina, após a conquista da Terceira pelas tropas espanholas. Assim, em 1590, inicia-se a elaboração do projecto da fortaleza de São Filipe (em homenagem ao soberano, Filipe II de Espanha), pelo italiano Tiburzio Spannocchi. Em 1593 dá-se o lançamento de sua primeira pedra, no baluarte de Santa Catarina e em 1603 inicia-se a construção da fortaleza.
A sua função era múltipla:
- a de protecção do porto de Angra e das frotas coloniais que nele se abrigavam contra os assaltos de piratas e de corsários, uma vez que era aqui que as embarcações se reuniam, para juntas cumprirem a última etapa de navegação até à península Ibérica, sob escolta da Armada das Ilhas;
- a de aquartelar as tropas espanholas para a defesa da ilha.
"(...)Um dos actos governativos de António de Ia Puebla foi a fundação do castelo de S. Filipe, (...); mas apenas El-Rei de Castela entrou no governo de Portugal e desta ilha, tratou logo de o fundar, não só para que a defendesse, mas ainda para que auxiliasse as demais ilhas, se por inimigos fossem entradas.(...)" -em Anais da Ilha Terceira — Tomo I (Quarta Época - Capítulo XVI)
A mão-de-obra empregada nos trabalhos foi, em grande parte, fornecida por condenados às galés e por soldados do presídio, mas também por um expressivo número de canteiros e pedreiros locais.
Tanto os Terceirenses quanto os habitantes das demais ilhas, suportaram tributos, cujas receitas foram aplicadas nas obras desta fortificação.
"(...) foi feita com pragas, suor e sangue."- (refere o padre Maldonado-op. cit., p. 81).
A fortaleza estava guarnecida, à época, por mil e quinhentos homens de primeira linha e artilhada com cerca de quatrocentas peças dos diversos calibres.
Entre 27 de Março de 1641 e 4 de Março de 1642, as forças espanholas resistiram ao cerco que lhes foi imposto por forças portuguesas, compostas pelas Ordenanças da Terceira, até que por fim se renderam tendo-lhes sido permitido retirarem-se com as armas pessoais assim como duas peças de artilharia de bronze e respectiva munição.
"Os espanhóis deixaram para trás cento e trinta e oito peças de ferro e bronze de diversos calibres, trezentos e noventa e dois arcabuzes, e cerca de quatrocentos mosquetes e copiosa munição"- (ARAÚJO, 1979:80).
Igreja de S. João Baptista |
Por fim em posse dos portugueses, a Fortaleza, (sob a invocação de São João Baptista e em homenagem a D. João IV de Portugal), passou a denominar-se Fortaleza de São João Baptista. Em 1645 sob a invocação do mesmo padroeiro, começou a erigir-se na Praça de Armas a Igreja de São João Baptista, a primeira no país após a Restauração da Independência.
Desempenhou vários papéis importantes ao longo da História até que já no século XX, entre 1916 e 1919, durante a Primeira Guerra Mundial, as dependências do forte foram utilizadas, como "Depósito de Concentrados", súbditos alemães obrigados a permanecer em Portugal por força das determinações que se seguiram à declaração de guerra.
Em 1933, tendo aqui sido criado um presídio militar, o Forte foi utilizado como prisão política pelo Estado Novo português, e em 1943 tornou-se no "Depósito de Presos de Angra".
Constitui-se no aquartelamento de tropas operacionais mais antigo em território português, com uma permanência ininterrupta de quatro séculos, sendo que hoje ali se encontra o Regimento de Angra do Heroísmo (RG1), que é a organização militar mais Ocidental de Portugal e da Europa.
A Fortaleza cobre uma superfície de cerca de três quilómetros quadrados. É constituída por um núcleo principal, fechado no istmo, constituído por uma muralha de cerca de 570 metros, com três baluartes e dois meio-baluartes:
- Baluarte de Santa Catarina, sobre a rocha do Fanal, com sete canhoneiras.
Baluarte de S. Pedro e Porta d'Armas |
- Baluarte de São Pedro, à esquerda do Portão de Armas, com quinze canhoneiras.
- Baluarte da Boa Nova, à direita do Portão de Armas, com dezasseis canhoneiras, onde se encontra o chamado Torreão da Bandeira, onde se levanta o mastro da bandeira da fortaleza.
Baluarte de Sta. Catarina |
- Baluarte do Espírito Santo, sobre o chamado Campo do Relvão, onde se abrem quatro canhoneiras e três paióis.
- Baluarte de Santa Luzia, com cinco canhoneiras e um paiol.
Sobre o Portão de Armas inscrevem-se o escudo com as armas portuguesas (em substituição às armas filipinas) e uma lápide evocativa da consagração de Portugal à Imaculada Conceição, ambas as pedras colocadas após a rendição espanhola.
A partir de cada uma de suas extremidades projectam-se duas outras cortinas que envolvem a península:
Costa Leste do Monte Brasil |
- a Porta do Portinho Novo
- a Porta do Cais da Figueirinha
- o Reduto dos Dois Paus;
- o Reduto de São Francisco;
- o Forte de São Benedito do Monte Brasil (Reduto dos Três Paus);
- o Reduto de Santo Inácio;
- o Forte de Santo António do Monte Brasil
No lado Sudeste da península, voltado a mar aberto, encontra-se o Forte da Quebrada, implementado sobre a rocha viva junto ao mar, a sua função era a de evitar que, em ângulo morto dos fogos do Forte de São Diogo e do Santo António, qualquer embarcação pudessem se ocultar ou encontrar abrigo.
A cortina do lado Oeste, que também se estende por cerca de um quilómetro, compreende, no sentido Sul-Norte:
Costa Oeste do Monte Brasil |
- a Bateria da Constituição;
- o Forte de São Diogo do Monte Brasil (Forte do Zimbreiro);
- a Bateria da Fidelidade;
- o Reduto General Saldanha;
- o Reduto de São Gonçalo;
- o Reduto de Santa Cruz;
- o Reduto de Santa Teresa;
- o Cais do Castelo, na baía do Fanal.
Nota: todos estes redutos e fortes encontram-se em estado de ruína.
Forte de São Filipe do Monte Brasil (Autor desconhecido, 1595, Arquivo Geral de Simancas.) |
O conjunto da Fortaleza e da Igreja de S. João Baptista, encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 32.973, de 18 de Agosto de 1943, e inscrito no Centro Histórico de Angra do Heroísmo, classificado pela UNESCO como Património Mundial desde 1983. Encontra-se classificada como Monumento Regional e tem Servidão Ambiental por se encontrar inserida na Paisagem Protegida do Monte Brasil.
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