Sismo 1980

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[...] «somos de carne e de pedra [...] os nossos ossos mergulham no mar».
  Vitorino Nemésio em «Açorianidade»


O evento


O sismo ocorreu pelas 15:42 (hora local) do dia 1 de Janeiro de 1980, e teve magnitude 7,2 na escala de Richter. A profundidade hipocentral estimada foi de 10 km e o epicentro situou-se no mar, cerca de 35 km a SSW de Angra do Heroísmo. Foi perceptível durante 20 segundos num raio de 120 quilómetros e produziu mais de 300 réplicas em três meses.



Os danos

O sismo afectou as ilhas Terceira, Graciosa e S.Jorge.


Foto 1 - Rua da Rocha

Na ilha Terceira das 19 000 habitações existentes, 4700 ficaram destruídas e 5700 ficaram inabitáveis. Só em Angra do Heroísmo, das 4600 habitações existentes ficaram destruídas cerca de 1800.

Foram registadas 71 vítimas fatais (51 na Terceira e 20 em São Jorge) e mais de 400 feridos.


No total, ficaram danificados mais de 15 500 edifícios, causando cerca de 15 000 desalojados.

O então presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes anunciou três dias de luto nacional





Os testemunhos


Foto 2  - Igreja da Mesericórdia
"(...) Lembro-me que andava de bicicleta no quintal da minha casa e a determinada altura fiquei sem perceber o que se passava, a bicicleta não respondia aos meus comandos e quase tudo em meu redor caía como se de peças de dominó se tratasse, como foi o caso do “asilo das meninas”, conhecido por Irmandade de Nossa Senhora do Livramento. Na altura a inocência típica dos meus cinco anitos não permitiu que eu reflectisse sobre quantas crianças teriam ficado debaixo dos escombros. Confesso que ainda hoje não sei… e para ser sincero prefiro não saber.(...)" - diz Miguel Bettencourt em http://miguelbettencourt.wordpress.com/2009/02/09/registos-fotograficos-do-sismo-de-1980/







Foto 3 - Sé Catedral

"(...)Em Angra tudo foi abaixo. Havia rachas no chão. Vim a descobrir que a minha casa, pequena e antiga, fora abaixo. O telhado tinha caído e não se conseguia abrir a porta. Se tivesse lá ficado talvez não estivesse viva hoje.(...) Nos dias seguintes, não conseguia dormir. Lembro-me que quando se davam as réplicas (algumas bastante fortes), o pânico era tão grande que fugíamos sem norte(...)" - relato de Ana Alves ao Correio da Manhã   http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/eu-sobrevivi







Foto 4

"(...)Tanta radiografia se havia tirado naquela tarde que as radiografias tinham muito menos precisão. Haviam mesmo crianças feridas ou amputadas a acordar de anestesias. Havia uma grande confusão (...) Mesmo sendo de dia, houve mortes a lamentar. Houve enormes danos patrimoniais, economias familiares comprometidas, futuros de luta inesperada ou incerta.(...)" -  palavras do Professor Doutor António Manuel Bettencourt Machado Pires  quando das Comemorações dos 25 anos do Sismo em http://www.iac-azores.org/agenda/2005/sismo1980.html






Foto 5

"(...)os meus pais e restante família encontravam-se todos a viver em Angra do Heroísmo, tendo a casa dos meus pais ficado destruída e as outras com vários danos.
Foram momentos muito difíceis e que permanecem na minha memória pois durante muitas horas não obtive notícias deles e depois por ver os meus pais então com 60 anos a ficarem sem a sua casa de sempre (...)" - diz Martins Soares em  http://fayal.blogs.sapo.pt/321800.htm









Foto 6
"(...) Não tive lua-de-mel. Em sete anos, vivi em sete casas e dormi em nove camas diferentes.(...)", conta Francisco Reis Maduro-Dias que casara no Porto pelos dias do sismo e, ao regressar a Angra, encontrou destruída a casa que passara dois anos a restaurar com as próprias mãos (...)" em http://joelneto-outros.blogs.sapo.pt/tag/reportagem










Foto 7


“(...) na primeira noite que ficámos em Angra do Heroísmo não conseguimos dormir, bem como a população local, devido às cinco fortes réplicas que se fizeram sentir na ilha”(...) recorda o repórter fotográfico Marques Valentim do jornal Portugal Hoje, um dos primeiros fotojornalistas do Continente a chegar à  Terceira, em http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=13440

 




Foto 8
"(...)Com tal ondulação tudo se mexia. As paredes da casa das minhas velhinhas primas caiu, eu gritava, gritava... Ninguém me ouvia tal o barulho que acompanhava o meu medo. Aconteceu-me algo estranho e fiquei com um frio horrendo. Não havia roupa que me tirasse aquele frio, nem o casaco grande da minha mãe.(...)" - testemunha "Azoriana" em http://silvarosamaria.blogs.sapo.pt/1014630.html





Após o sismo




Foto 9 - Ajuda à população

A 15 de Fevereiro de 1980, um mês e meio depois de a terra tremer haviam sido montadas 415 tendas em diversos aldeamentos improvisados, distribuídos dois mil quilos de lacticínios (manteiga e queijo) e 120 mil unidades de alimentos básicos (pão e leite) e entregues aos sinistrados 1550 toneladas de cimento, 63 toneladas de ferro, 750 metros cúbicos de areia, 950 metros cúbicos de brita, 2800 barrotes e 2750 dúzias de tábuas de forro.


Na altura já havia casas em avançado estado de reconstrução - e então ainda não havia projectos nem empreiteiros, era o povo a trabalhar com as próprias mãos.

Foto 10 - Aguardando entrega de abastecimento

As ajudas vieram de todo o lado. Instituições como a Cruz Vermelha, a Cáritas, a Fundação Espírito Santo, a PSP, o Regimento de Infantaria, a Base Aérea - todas elas acorreram ao que puderam.

Países como os Estados Unidos, o Canadá, o Japão, a Coreia do Sul, a Alemanha, a França ou a Inglaterra - todos eles contribuíram com fundos. Cidades como Viseu, Aveiro, Fafe, Leiria e Coimbra - todas elas forneceram operários mais ou menos qualificados. Empresas nacionais e locais, todas elas apressaram projectos.

Mas foi o povo o primeiro a reagir.

Ao fim de apenas dez dias, marcados por chuvas torrenciais, os entulhos estavam todos removidos e/ou encostados às paredes, com as estradas desobstruídas. Milhares de pessoas foram realojadas (escolas, tendas, módulos metálicos, barracas de madeira e casas pré-fabricadas), correndo às distribuições de comida e de roupa, improvisando espaços de culto e tentando resistir aos atritos da vizinhança forçada - o crime quase não aumentou.

Em 1985, mais de 85 por cento dos edifícios destruídos nas três ilhas estavam outra vez de pé, agora com novas condições sanitárias e de segurança. (excertos do texto de Joel Neto em A Cidade dos Heróis) 

Durante a meia década que sucedeu ao brutal sismo de 1 de Janeiro de 1980, Angra do Heroísmo foi sobretudo um grande estaleiro de obras.

Foto 11


"(...) Só caí em mim ao fim de doze dias. E as minhas prioridades eram a água, a luz e que o Rádio Clube de Angra estivesse a funcionar para dar informações às pessoas(...)" - palavras do presidente da Câmara Rui Mesquita, que havia sido empossado escassas 24 horas antes do sismo em http://joelneto-outros.blogs.sapo.pt/tag/reportagem









Foto 12

"(...)Tinha apenas 5 anos, mas lembro-me perfeitamente que parecia que todos sabiam o que haviam de fazer não só para minimizar danos pessoais como também como socorrer as pessoas. O meu próprio pai saiu em auxílio de muitos moradores a prestar os primeiros socorros.(...)" http://sociedade-civil.blogspot.com/2009/10/catastrofes-naturais-locais-de-risco.html







A reconstrução da cidade e de todo o seu património histórico e cultural levou á candidatura a Património Mundial pela Unesco.


A 7 de Dezembro de 1983, três anos depois do Sismo, Angra foi classificada Património da Humanidade pelos critérios IV e VI: a sua importância como escala de rotas marítimas e o seu papel na aproximação das civilizações.


«Angra conservou, mesmo depois do terramoto de 1 de Janeiro de 1980, a melhor parte do seu património monumental e um conjunto urbano homogéneo», dizia a declaração.






"(...) Essa é a voz do primum vivere brutal que a Natureza dita ao Açoriano: viver com as suas pedras, dar-lhes uma científica privacidade, esperar delas a imprevisibilidade das coisas naturais que nos concedem tanta beleza nos longos intervalos das suas fúrias cósmicas. Em suma, enfrentar com serenidade a terra volúvel e imprevisível.(...)" palavras do Professor Doutor António Manuel Bettencourt Machado Pires quando das Comemorações dos 25 anos do Sismo de 1980, em http://www.iac-azores.org/agenda/2005/sismo1980.html






Fotos 6, 10, 11 e 12 - Marques Valentim "01.01.80 - o Dia que abalou os Açores"




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