A Defesa dos Açores na Segunda Guerra Mundial

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A Defesa dos Açores



Até meados de 1941, os Açores estão praticamente indefesos.

Ernesto Machado, nomeado Comandante Militar dos Açores em 1939, foi instruído nesse mesmo ano pelo Subsecretário de Estado da Guerra para realizar a mudança do Comando Militar dos Açores da ilha Terceira (Palácio dos Capitães Generais) para São Miguel, e simultaneamente decidir sobre o reforço da Defesa das Ilhas.

Esse reforço, que durou de Outubro de 1939 a Julho de 1940, basicamente consistiu na instalação das baterias de costa, em Ponta Delgada (Bateria da Castanheira – Grotinha, Arrifes) e na Horta (Bateria de Costa da Ponta da Espalamaca e do Monte da Guia) e ao reforço da guarda das áreas mais críticas (estações de cabos, algumas praias, entre outras).

A partir de Maio de 1940, com a queda da França e com os pedidos insistentes da Inglaterra no sentido de reforçar a defesa nos Açores, decide-se enviar um batalhão expedicionário. O Batalhão de Infantaria nº.66 embarca para os Açores em Outubro de 1940.

Os Açores não têm cobertura aérea, embora uma pequena força de aviões de reconhecimento com base no arquipélago, fosse o bastante para aumentar em muito a eficácia do dispositivo de defesa. Efectivamente, os únicos hidroaviões que existem no país não podem permanecer nas ilhas por não haverem instalações adequadas.

A partir de Abril de 1941, o Exército reforça significativamente o seu contingente nas ilhas. 

Num relatório de 4 de Maio de 1941, a relevância das ilhas a defender fica definida:


S. Miguel é a ilha mais importante sob o ponto de vista estratégico; 
a Terceira é de grande importância, devido ao campo de aterragem; 
a ilha do Faial deve também ser defendida.

"Deverão preparar-se urgentemente dois aeródromos-base, um em cada uma das ilhas Terceira e de S. Miguel e, se possível, um campo de recurso na Ilha do Faial. Na ilha Terceira, o local preferido é o das Lagens, próximo de Praia da Vitória, e sobre o qual há já estudos do Conselho Nacional do Ar tendo em vista a sua utilização por linhas aéreas transatlânticas. Por agora interessa apenas um aeródromo de campanha, sem necessidade de grandes trabalhos de preparação. [...] 

A Marinha da Guerra e a Força Aérea acentuam a responsabilidade da vigilância das ilhas.
O patrulhamento aéreo é essencial na obtenção rápida de informação de modo a evitar qualquer ofensiva surpresa pelo que é sugerida a concentração urgente de maior numero de aviões possível nas ilhas.



Navio Lima


Em Maio de 1941, são enviadas para os Açores unidades antiaéreas no navio Lima e tropas de engenharia no navio Carvalho Araújo.







(1941), "Humberto Delgado e outros aviadores portugueses na Base das Lajes",
 CasaComum.org,
Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_114159 (2015-2-5)

O então Major Humberto Delgado é encarregado de acompanhar os trabalhos da implementação da pista nas Lajes. 
Abre-se uma pista de terra batida e erguem-se alguns armazéns. 





1941 
Construção do hangar pela marinha de guerra portuguesa 
para a instalação do Centro de Aviação Naval em Ponta Delgada



A  Marinha da Guerra e a Força Aérea empenham-se na defesa dos portos. 
Em  Junho de 1941, com o desenvolvimento da base naval,  é criado o Centro de Aviação Naval de Ponta Delgada e nomeado Comandante Militar dos Açores o Brigadeiro Marques Godinho.





O sistema de comunicações usado pelos guardas costeiros até aqui é quase exclusivamente o telefone, pelo que neste mesmo ano, os Açores recebem o Posto Radiotelegráfico do Centro de Aviação Naval de Ponta Delgada.  



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A Aviação - Esquadrilhas expedicionárias





Gladiator
Navio "Mirandela" no
Porto de Lisboa
A 4 de Junho de 1941, parte de Lisboa com destino aos Açores o cargueiro "Mirandela".
A sua carga é composta por duas esquadrilhas equipadas com aviões Gladiator, pessoal militar como oficiais, pilotos, mecânicos, radiotelegrafistas, enfermeiros, sargentos e soldados do serviço geral, rádio e condutores, viaturas, munições e combustíveis.



Transporte dos Junkers JU.52 de Ponta
Delgada para o Aeródromo de Sant'ana




A Esquadrilha de Caça Expedicionária nº1 , composta por 5 Junkers JU.52 e 15 Gladiator desembarca em S. Miguel a 8 de Junho, com destino ao Aeródromo Militar  de Sant'ana, em Rabo de Peixe.




12 Junho 1941
Desembarque em Angra do Heroísmo

A Esquadrilha de Caça Expedicionária nº2  composta por 15 Gladiator desembarca no Cais da Alfândega em Angra do Heroísmo, ilha Terceira na manhã do dia 12 de Junho. Desfila pelo centro da cidade e dirige-se ao Castelo de S. João Baptista onde fica aquartelada. 






Construção da primeira pista paralela
ao Engenho do Álcool
 e perpendicular à Serra
(Lajes) 
Gladiators na Achada
Os aviões seguem encaixotados para o Aeródromo das Lajes. São montados nas Lajes do Calvário, junto ao Engenho do Álcool, onde se localizava a pista, que tinha acabado de ser concluída. Como esta ainda não apresentava as melhores condições os Gladiators são temporariamente deslocados para o Aeródromo da Achada onde passam a operar.




É também necessário instalar a esquadrilha, proceder à montagem dos aparelhos, organizar a logística, a manutenção e a defesa das instalações. As obras nas Lajes ficam concluídas a 26 de Agosto de 1941.



Em Setembro de 1941, o Comando Militar dos Açores dirige já uma guarnição distribuída por três ilhas, com uma presença simbólica nas outras. A área que mais soldados expedicionários recebeu, cerca de 26.500 continentais para reforçar as guarnições locais já mobilizadas para a formação de novas unidades, totalizava um número compreendido entre os 30.000 a 32.000 homens.
O grosso das forças está em S. Miguel, sede de três regimentos de infantaria (RI 18, 21, 22), companhias de metralhadoras, artilharia antiaérea e de campanha e as baterias de defesa de costa de Ponta Delgada.
O RI 17 está na Terceira e o RI 20 no Faial, ambas as ilhas reforçadas com unidades de artilharia de campanha, antiaérea e auxiliares.

Assim, de Abril a Setembro de 1941, criou-se nas ilhas um dispositivo de defesa que segundo o governo português "estava em condições de se opor eficazmente a uma tentativa de ataque à sua soberania nas ilhas portuguesas do Atlântico".

1 comentários:

Unknown disse...

Meu Pai foi incorporado no regimento que partiu do 9 de lamego e falava com saudade do Botelho