Transbordo de armas químicas sírias no Porto da Praia da Vitória

 Os Estados Unidos pediram o apoio de Portugal para a operação de transbordo de armas químicas sírias de um navio dinamarquês para um navio norte-americano. A Casa Branca quer que o transbordo seja feito no porto da ilha Terceira.



A História repete-se...
 
A situação é já do conhecimento do presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, e do Presidente da República, Cavaco Silva, e teve a aprovação das Nações Unidas e da Organização para a Proibição de Armas Químicas.

Em comunicado enviado à Lusa, o MNE afirma que Portugal foi um dos países contactados pelos Estados Unidos da América, que “procuraram apurar a disponibilidade, junto de vários parceiros, de estruturas portuárias para a operação de transbordo do material químico transportado a partir da Síria num navio dinamarquês para um navio norte-americano”.
Portugal foi contactado, acrescenta, “como aliado empenhado na procura de uma solução para o conflito na Síria e tendo em conta a sua posição geoestratégica”.
 «Neste momento, prosseguem os contactos das autoridades norte-americanas com Portugal, não tendo sido ainda tomada uma decisão final», frisa o comunicado. 

“O Governo português, em articulação com o Governo regional dos Açores, e sempre norteado pela defesa dos interesses do país, efetuou consultas políticas internas e desenvolveu contactos exploratórios na hipótese de ser necessária uma instalação portuária nos Açores, formulando, designadamente, perguntas sobre fatores de ordem técnica, ambiental e de segurança, de modo a avaliar a existência de eventuais riscos desta operação”.

Questionado pela agência Lusa sobre os perigos de uma operação deste tipo, o presidente da Quercus, Nuno Sequeira, disse que «há eventuais riscos de contaminação do ar, dos solos, da água e até das populações humanas».
«Estamos preocupados, como todos os portugueses devem estar preocupados, porque se trata de uma operação que tem um risco bastante considerável. As armas químicas são armas de destruição massiva, são fabricadas para causar danos», afirmou Nuno Sequeira, salvaguardando que a informação de que a Quercus dispõe, neste momento, é a que tem sido veiculada pela comunicação social.
Ainda assim, o presidente da organização ambiental disse acreditar que o Governo «esteja a fazer tudo para garantir as condições de segurança necessárias».
«O que é necessário é que [o Governo] reaja rapidamente e que tranquilize as pessoas. Não é uma operação habitual e, além da segurança, é necessário que haja condições de tranquilidade», apelou Nuno Sequeira.
Para aquele responsável, a confirmar-se que o transbordo de material químico se realiza nos Açores, é preciso esclarecer que organismos nacionais e internacionais vão acompanhar a operação, que medidas de fiscalização vão ser tomadas e que tipo de licenciamento vai ser feito.
«Entendemos que haja algum sigilo, mas temos que exigir que o Governo venha dar este esclarecimento», afirmou Nuno Sequeira.




O que diz a História

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Portugal autorizou nos anos cinquenta o depósito de armas nucleares na ilha Terceira, pelos norte-americanos, em caso de necessidade,(...) revela o investigador Nuno Simas no seu livro "Portugal Classificado - documentos secretos norteamericanos, 1974-1975".

A 29 de Julho  de 1957, um avião C-124 carregado com duas bombas nucleares, em rota para os Açores,  teve problemas mecânicos e a tripulação optou por lançar a carga ao mar, ao largo de New Jersey. Se não tivessem havido problemas, o avião teria aterrado nos Açores com as duas bombas nucleares se bem que as bombas teriam como destino final, para armazenamento permanente, bases norte-americanas no Norte de África e não os Açores.

Os Açores estavam reservados a ser uma base de armamento nuclear em situação de crise, emergência ou guerra. Autorizações foram válidas desde os anos 60 até à década de 80.


Foto daqui
Cerca de 400 milhas a sudoeste dos Açores encontra-se depositado no fundo do mar o que resta do submarino norte-americano USS Scorpion. As duas ogivas nucleares e os reactores nucleares que o submarino transportava à data do seu afundamento, em 22 de Maio de 1968, nunca foram retiradas dos destroços.  Os habitantes do arquipélago podem estar expostos aos perigos da radioactividade, já há algumas dezenas de anos,sem que disso tenham real consciência. Apesar do material estar localizado em águas internacionais, as autoridades norte-americanas têm impedido, até hoje, que outros estudiosos tenham acesso ao local e possam efectuar investigações.


Estudos independentes norte-americanos confirmam a presença na ilha Terceira de cargas nucleares de luta anti-submarina utilizadas pelos aviões P3-Orion que patrulhavam o Atlântico a partir das Lajes até ao início dos anos noventa.

O “Chrome Dome Program”, programa americano de utilização de armamento nuclear para um contra-ataque contra a União Soviética, em que uma das rotas passava a 300 quilómetros a Norte dos Açores, envolvia 12 super-bombadeiros B-52, que levavam nos seus porões bombas termo-nucleares, que seriam atiradas sobre alvos soviéticos ou países integrados no Pacto de Varsóvia, caso a URSS ataca-se os Estados Unidos. Estas aeronaves permaneceram no ar constantemente nas décadas 50, 60 e 70. Neste programa, a base das Lajes  ao serviço dos Estados Unidos e da NATO, serviria como ponto de apoio, em caso de avaria ou acidente”

Há poucos anos, um antigo trabalhador português ao serviço dos militares na base das Lajes, revelou ter visto “homens vestindo fatos semelhantes aos que se usa para retirar o mel das colmeias nos paióis do Cabrito”, envoltos em enorme secretismo e grandes cuidados de segurança.“Quando esses homens ali estavam, os seguranças portugueses eram mandados sair do local, e eram substituídos por militares armados”, recorda, embora desconhecendo se se tratava de armamento nuclear.
 

Pico Careca
Paiol
Os militares norte-americanos mantiveram na ilha, durante vários anos, um vasto campo de paióis, hoje abandonado. Perto desse campo, situa-se o “Pico Careca”, uma pequena elevação sem vegetação no seu cimo.

Vários académicos assumem que a inexistência de vegetação no topo do “Pico Careca” indicia a presença de substâncias que poderão resultar de radioactividade. 

O professor Félix Rodrigues, do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, confirma , a presença na Terceira de vestígios de urânio, tório e água com níveis de trítio ligeiramente superiores aos níveis ambientais, que não indiciam uma origem geológica, mas não confirmam nem desmentem a hipótese de armas nucleares na ilha. Preconiza, por isso, mais investigações de pormenor e em larga escala.

Nos anos 90, uma comissão do Senado norte-americano deslocou-se à Terceira a fim de  investigar uma queixa de militares americanos, à altura doentes com cancro, onde alegavam terem estado expostos a radiações nucleares na Base das Lajes. O dossier foi considerado secreto, informação confirmada por altas patentes militares portuguesas que pediram o anonimato e garantiram nunca ter tido conhecimento dos resultados da investigação.Os documentos relativos a esta visita, segundo as mesmas fontes, estarão classificados por um período de trinta anos.
Fontes:
TVI24