Angra do inicio do povoamento a 1595 (VIDEO)

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No final do século, Angra era uma cidade próspera e desejada, a “universal escala do mar ponente, como lhe chama  Gaspar Frutuoso.

A primeira imagem que temos de Angra é a tão falada carta atribuída a Jan Hugyen Van Linschoten anexa ao “Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Hugyen Van Linschoten para as Indias Orientais ou Portuguesas”

A Carta datada de 1595, com a legenda “A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus”, representa a cidade com imensos pormenores e nela nos podemos basear para viajarmos até Angra no final do século XVII.


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Angra - Evolução Urbana de 1500 a 1595

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Desde a sua descoberta que as ilhas dos Açores  serviram de ponto de paragem e abrigo para navegadores que iam e vinham de paragens mais distantes.
Panorâmica da baía de Angra

Foram inúmeros os que daqui partiram à descoberta de terras a Ocidente, assegurando, antecipadamente, a posse do que descobrissem por carta régia, entre outros: 
Diogo de Teive, que chegou ao mar dos Sargaços podendo ainda ter atingido os bancos da Terra Nova, no regresso, em 1452, descobriu as ilhas das Flores e do Corvo
O terceirense João Fernandes "Labrador“, acompanhado de Pedro Barcelos, parte à descoberta de terras no Atlântico em 1499 e avista o que se viria a chamar a Terra do Labrador
Em 1500, Gaspar Corte Real, filho do capitão do donatário João Vaz Corte Real,  parte para a sua primeira expedição. Terá chegado à Gronelândia, nas proximidades do cabo Farvel, mas foi detido pelos gelos árcticos. Em meados de Março de 1501 faz nova viagem com três caravelas, que terão alcançado a Terra Nova. No final do Verão, Gaspar Corte Real mandou duas delas regressar a Lisboa e continuou a sua exploração, não se sabendo mais nada do seu destino; Em Maio de 1502, Miguel Corte Real parte em busca do seu irmão, também terá chegado à Terra Nova, mas também nunca regressa a Portugal. A façanha dos Corte-Reais revela a América do Norte à Europa, certificada no planisfério Cantino de 1502.



Cidade de Angra - 1845
Louis Lebreton (foto daqui)

A exploração da costa atlântica de África na segunda metade do séc. XV, o estabelecimento de feitorias no Golfo da Guiné, nas  ilhas de Cabo Verde e de S. Tomé  e Príncipe, associada à prática de navegar pela “volta do largo ou volta da mina", tornam os  Açores, principalmente o porto de Angra,  um local de paragem e abrigo para as embarcações e seus navegantes:
Cristóvão Colombo no regresso da sua famosa viagem de 1492, visita a ilha de Santa Maria;
A 12 de Julho de 1499, a caravela Bérrio entra no rio Tejo com a notícia que os portugueses tinham chegado à Índia por mar. A expedição de Vasco da Gama havia descoberto o Caminho Maritimo para a India, mas o capitão ficou na ilha Terceira a acompanhar o seu irmão Paulo da Gama, gravemente doente onde viria a falecer, tendo sido sepultado no Convento de São Francisco em Angra.

Angra cresce proporcionalmente ao número de gente que ali chega atraídos pelo comércio florescente e pela agricultura que também prospera.


Edifício da Antiga Alfândega (de 1853)
 no mesmo local da primeira Alfândega de 1499



Em 1499 dá-se o inicio do funcionamento da Alfândega, surgem novos locais de culto como as Ermidas de Santa Catarina, São Bento, e São Lázaro que teria em anexo um hospital para leprosos, o que atesta o aparecimento de novos núcleos populacionais.







Rua Direita

A famosa “retícula” Angrense cresce apoiada em dois eixos estruturantes - a Rua Direita e a Rua da Sé, numa malha de quarteirões de base rectangular que facilita a adaptação ao terreno. 
As "ruas principais" (lado maior do rectângulo), de que são exemplo a Rua de São João, a Rua da Palha e a Rua Carreira dos Cavalos, desenvolvem-se perpendicularmente ao mar sendo atravessadas pelas "ruas secundárias" (lado menor do rectângulo), de que são exemplo a Rua da Rosa e a Rua da Rocha. 





Praça Velha



Na praça, centro nevrálgico da cidade, além dos Paços do Senado da Câmara, instala-se o Tribunal da Justiça, a Cadeia com as Enxovias e a Audiência Geral








Zona portuária na actualidade.



A zona do porto desenvolve-se com serviços de apoio às embarcações como as bicas de água junto ao cais,  o matadouro, as casas da Alfândega e o Hospital  e surgem os estaleiros navais da Prainha e do Porto das pipas.




A 22 de Abril de 1500, treze caravelas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral, chegam ao Brasil.

Angra torna-se sede da Corregedoria das Ilhas (em 1503) e um porto de escala das navegações atlânticas, para os  navios portugueses regressados da Índia, de São Tomé, da Mina, Guiné e Brasil, mas também de frotas espanholas regressadas das suas colónias na América. Esta escala viria a revelar-se essencial na prestação de serviços de reabastecimento, reparação, abrigo, protecção e restabelecimento das embarcações e seus tripulantes. Mas esta zona também se viria a transformar num espaço procurado por corsários e piratas que frequentemente atacavam as embarcações. Surgiu assim a necessidade de as proteger pelo que D. Manuel I  cria em 1520 a Armada das Ilhas regulamentada pelo  "Regimento para as naus da Índia nos Açores". A armada das ilhas, composta por um número variável de navios, saía anualmente de Lisboa, rumava primeiramente às Berlengas e daí seguia para a ilha Terceira onde o capitão mor da armada tomava conhecimento de qualquer notícia referente a corsários. De seguida, dirigia-se para a ilha do Corvo, na proximidade da qual ficava durante cerca de quatro meses a aguardar pela última nau da carreira da Índia desse ano, só então regressando a Lisboa. 

Baía de Angra


Cerca de 1527,  foi criada  a  Provedoria das Armadas, com sede em Angra. O   provedor, Pero Anes do Canto, tinha a responsabilidade da montagem de um sistema de vigilância que permitisse detectar a aproximação das naus da Índia, de forma a protegê-las e abastecê-las do suficiente para chegarem ao porto de Angra, onde ficavam ancoradas. Aí era informado das condições da embarcação, da tripulação, se havia ou não doentes, da carga que trazia, das ocorrências da viagem. Estas informações eram transmitidas de imediato ao rei por carta enviada num caravelão destacado para o efeito. No caso dos navios vindos da Mina, os cofres de ouro eram desembarcados, ficando à guarda do provedor, até à hora do regresso a Lisboa. A vigilância dos navios era um dos maiores problemas, pois além dos ataques de piratas e corsários, havia que contrariar o contrabando que grassava no porto de Angra, mas além de tudo isto, uma das mais importantes  tarefas do provedor era o abastecimento dos navios, pois a ilha por vezes não dispunha de géneros suficientes para o fazer.


Cidade de Angra do Heroismo em 1905 (foto daqui)

Assim, para além do fornecimento de água e víveres, os Açores, e em particular a Terceira, servem de local de reagrupamento, para formação de comboios que fornecessem protecção contra os piratas que infestavam a periferia europeia, e de transbordo das mercadorias, em especial de preciosidades, que ficavam a aguardar transporte seguro para os portos portugueses.

Em 1534,  Angra é elevada a Cidade  e  fundada a Diocese de Angra pela bula Aequum reputamus, cabendo desde então ao bispo de Angra a superintendência espiritual das nove ilhas açorianas. 
Em 1536 torna-se sede da Provedoria da Fazenda.

Em 1540 fica concluída a Ermida de Nossa Senhora dos Remédios  que António Pires do Canto, segundo provedor das Armadas, manda construir nos terrenos que seu pai adquirira no Corpo Santo.

Em 1541 por Bula Apostólica é concedida a fundação do Convento de S. Gonçalo a Braz Pires do Canto, destinando-se às suas duas filhas monjas, com a invocação de Nossa Senhora da Esperança da Ordem de S. Francisco (Ordem de Santa Clara).

Antigo Paço Episcopal


Em 1544, D. João III faz doação e mercê à Sé para que "(…) servisse de aposento do bispo de Angra, umas casas do rei existentes junto à Sé e pegadas com o adro dela (…) na Carreira dos Cavalos", surgindo assim o primitivo Paço Episcopal de Angra.




É fundado o Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança (cerca de 1550), são construídas as  Ermidas de São Sebastião (onde hoje se situa o Largo do Dr. Sousa Junior), e de Nossa Senhora do Desterro, a nova Igreja de Santa Luzia (1551) que marcava informalmente o limite norte da cidade, em 1553 nasce a segunda Paróquia da cidade: Nossa Senhora da Conceição, a Ermida dos Santos Cosme e Damião mandada edificar por António Pires do Canto em 1560 onde hoje está localizada a Igreja do Colégio, as Ermidas de Nossa Senhora das Neves  e de  Nossa Senhora da Graça (1570) junto das quais viriam a surgir o Colégio dos Jesuítas e o Convento de Nossa Senhora da Graça em 1594, respectivamente. 

Ainda em 1570 dá-se inicio à construção da Sé de São Salvador, por alvará de 1568, , sendo autor do projecto o arquitecto Luís Gonçalves. A construção durou cerca de cento e trinta e dois anos, ficando concluídos os primeiros trabalhos em 1618.

Em 1572, institui-se a terceira e quarta paróquias da cidade:  São Pedro, cuja igreja fica construída em 1575 e São Bento desconhecendo-se a data de construção da igreja. Em 1595 surge a última paróquia de Angra: Santa Luzia

Do ponto de vista militar, os planos para a  defesa da cidade começam após o ataque do corsário francês Peyrot de Monluc em 1566. No ano seguinte, Tommaso Benedetto é enviado aos Açores e traça o plano defensivo da Terceira. 
Inicia-se a  construção do  Castelo de São Sebastião ente 1568 e 1578 e da extensa muralha que fechava a baía de Angra  e que ficaria concluída em 1582. Só mais tarde, em 1590 o italiano Tiburzio Spannocchi elabora o projecto da Fortaleza de São Filipe. 


luis teixeira cosmografo
CARTA DA ILHA TERCEIRA, AÇORES DE 1587 editada por Ortélio,
PORTUGALIA MONUMENTA CARTOGRAPHICA
ARMANDO CORTESÃO E AVELINO TEIXEIRA DA MOTA

LEGENDA DA CARTA
Entre as ilhas dos Açores esta é a melhor e a mais fértil, assim, mais forte, a que melhor se pode defender. Em ela está a feitoria de El-Rei porque todas as Armadas que de todas as partes vêm cumprindo a sua viagem, a ela vêm diferir onde se provêem de todo o necessário de mantimentos e outras coisas, porque também o El-Rei o dá por bem e ela melhor o pode fazer, tem muito pão, vinho, frutas, carne, peixe e dá pastel com que dão cor aos panos em Flandres, França e as mais partes do norte dela se provêem, a razão também porque as Armadas a ela vêm diferir, é porque tem o porto mais capaz para poderem surgir por ter dois portos, um é o de Angra, junto à cidade, e outro do Fanal que com duvidosos tempos podem estar em cada um, que são de uma parte e outra do Brasil que é a ponta que mostra ser alta, também tem a praia bom fundeadouro, chamada, ilha do Bom Jesus e vulgarmente de Terceira porque vindo no descobrimento delas ela foi a terceira, depois de acharem a de S. Miguel e de Santa Maria.
Feita por Luís Teixeira cosmógrafo de sua Majestade, em Lisboa Ano do Senhor.
1587



No final do século, Angra era uma cidade próspera e desejada, a “universal escala do mar ponente, como lhe chama  Gaspar Frutuoso.

A primeira imagem que temos de Angra é a tão falada carta atribuída a Jan Hugyen Van Linschoten anexa ao “Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Hugyen Van Linschoten para as Indias Orientais ou Portuguesas”. A Carta datada de 1595, com a legenda “A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus”, representa a cidade com imensos pormenores e nela nos podemos basear para viajarmos até Angra no final do século XVII.


Jan Hugyen Van Linschoten
"A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus"
1595


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